terça-feira, 10 de abril de 2012

LA CLEMENZA DI TITO, Teatro Real, Madrid – 17 Fevereiro 2012



(review in english below)

Não sei se vou ter palavras que sejam justas para descrever o quão espetacular foi a produção de La Clemenza di Tito do Teatro Real de Madrid desta temporada. Mas vou tentar, sumarizando numa expressão que me é querida: BRUTAL!!!

Quem ama a Ópera sabe que poucas serão as vezes que se sai de uma récita com a noção de que não houve elo mais fraco e que todos os intervenientes estiveram a um nível estrelar. Ainda mais se tornam especiais essas récitas em que os astros parecem estar todos alinhados sobre aquela casa de ópera e naquele momento, quando somos surpreendidos por vozes que ainda não conhecíamos, que são jovens e impressionantes. Foi isso que me aconteceu no passado dia 17 de Fevereiro.

Sem nunca o tendo visto ao vivo, já conhecia a voz de Yann Beuron, a partir da gravação de Iphigenie en Tauride de Gluck por Minkowski, e tinha a certeza de que faria um Tito fenomenal. A sua voz tem uma frescura, constância e beleza pura irrepreensíveis, acoplada a uma naturalidade expressiva impressionante.

(Yann Beuron)

Kate Aldrich conhecia menos, apenas de excertos do Youtube, e que Sesto nos ofereceu!... Brilhante em todos os aspectos!

(Kate Aldrich)

Os restantes eram-me completamente desconhecidos. Serena Malfi (Annio), Maria Savastano (Servilia) e Guido Loconsolo (Publio) surpreenderam pela qualidade e beleza tímbrica, perfeita para o canto Mozartiano.

(Serena Malfi)

(Maria Savastano)

(Guido Loconsolo)


Estiveram todos espetaculares, como disse, mas se tivesse que realçar um (e vou fazê-lo), tinha de ser a Vitellia de Amanda Majeski. Acho que a cantora ruiva podia mudar o nome para Majestik, dado que a sua interpretação foi magistral! Tem uma potência vocal colossal, mantendo toda a qualidade em qualquer registo, modula-a conseguindo transmitir, de forma sempre sublime e sem exageros corporais, todos os sentimentos por que Vitellia passa ao longo da obra: raiva, medo, compaixão, arrependimento... Seduziu-me por completo e, com as devidas reservas, quase que tive vontade de matar Tito no primeiro acto, tomando o lugar de Sesto... J O modo como falou, em vez de cantar, a passagem em que se revela como culpada a Tito perfurou-me a alma.

(Amanda Majeski)

Thomas Hengelbrock dirigiu a fantástica Orquestra do Teatro Real de forma transcendental, transmitindo uma sonoridade mozartiana invejável. Tenho de destacar a excelente prestação do clarinetista. Não me recordo de alguma vez ter ouvido alguém a tocar este instrumento de forma tão sentida e doce. Não pude de deixar, por breves momentos, de relembrar o concerto para clarinete e orquestra, também esta uma criação sublime do último ano de vida de Mozart, e desejar ouvi-lo por este conjunto.

(Thomas Hengelbrock)

A encenação, originalmente para o Festival de Salzburgo, é simples, clara, cheia de luz, e complementa de modo coerente uma acção que, nesta ópera, é maioritariamente psicológica.

Se as produções Mozartianas anunciadas para a temporada 2012-2013 pelo Teatro Real de Madrid tiverem a mesma qualidade desta produção de La Clemenza di Tito, Madrid será um dos locais de culto para fanáticos desta arte e deste compositor...




Uns exemplos do que vos transmiti...




La Clemenza di Tito, Teatro Real, Madrid - February 17, 2012



I do not know if I have words that are fair to describe how spectacular this production of La Clemenza di Tito was. But I will try, summarizing in an expression that is dear to me: BRUTAL!!!

One that loves Opera knows that there not always you get out of a performance with the notion that there was no weakest link and that all players were at a star level. These performances become even more special when the stars appear to be all lined up above that opera house and at that moment, when you are surprised by voices that you still did not know, and who are young and impressive. That happened to me on the past February 17.

Without ever having seen him live, I already knew the voice of Yann Beuron from the recording of Gluck's Iphigenie en Tauride by Minkowski, and I was sure ihe would make a phenomenal Tito. His voice has a freshness, consistency and pure beauty, coupled with an impressive naturally expressivity.

(Yann Beuron)

I knew less Kate Aldrich, only from videos on Youtube, and what a Sesto she gave us! ... Brilliant in all aspects!

(Kate Aldrich)

The rest were completely unknown to me. Serena Malfi (Annio), Maria Savastano (Servilia) and Guido Loconsolo (Publio) surprised me by the quality and beauty of timbre, perfect for singing Mozart.


(Serena Malfi)

(Maria Savastano)

(Guido Loconsolo)


They were all spectacular, as I said, but if I had to highlight one (and I'll do it), it had to be the Vitellia of Amanda Majeski. I think the redheaded singer could change the name to Majestik, given that her interpretation was masterful! She has a huge vocal power, keeping the quality in any level. She modulates her voice in a perfect way, and without physical exaggeration, conveying all the different Vitellia’s feelings: anger, fear, compassion, repentance… She seduced me completely and, with appropriate reservations, I almost wanted to kill Tito in the first act, taking the place of Sesto ... ☺ The way she spoke, instead of singing, in the passage in which she reveals herself guilty to Tito, pierced my soul.


(Amanda Majeski)

Thomas Hengelbrock conducted the fantastic Orchestra of the Teatro Real in a transcendental form, conveying an enviable Mozartian sound. I have to highlight the excellent performance of the clarinetist. I do not remember ever having heard anyone playing this instrument as he did. I briefly remembered the concert for clarinet and orchestra, which is also a sublime creation of the last year of Mozart's life, and desired to hear it by this ensemble.


(Thomas Hengelbrock)

The staging, originally for the Salzburg Festival, is simple, clear, light-filled and consistently adds on to an action that, in this opera, is mostly psychological.

If the Mozart productions announced for the 2012-2013 season at the Teatro Real de Madrid have the same quality of this production of this La Clemenza di Tito, Madrid is one of the places of worship for fans of this art and this composer...




Some examples of what I have described to you...


5 comentários:

  1. Caro Wagner_fanatic,

    Mais um texto magnífico! Vê-se, pelo ardor que nele impregnou, que esta produção foi realmente "BRUTAL". E as vozes que escutamos nos vídeos revelam, efectivamente, enorme qualidade e musicalidade mozartiana.

    Eu também estive no Teatro Real de Madrid para Iolanta/Persèphone e achei a orquestra magnífica, além da própria sala (que tem belíssima condições). E foi, também, uma noite memorável, dessas em que, tal como sugere, os astros se conjugam: será pelo tecto do restaurante do TR? Tem a curiosidade de representar, fidedignamente, as estrelas que iluminavam o céu de Madrid aquando a (re)inauguração do teatro. Fiquei (aliás, estou) com uma enorme vontade de regressar à capital de nuestros hermanos.
    Saudações

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  2. Caro wagner_fanatic,
    Que agradável ler esta sua entusiasmada crítica. Também eu, como em tempo escrevi neste blogue, tive oportunidade de assistir a uma fabulosa récita da Clemenza em Paris. Não sendo esta uma das minhas óperas favoritas de Mozart, confesso que, bem interpretada, é empolgante.
    Como refere, se este nível se mantiver no Teatro Real, na próxima temporada haverá muitos motivos de grande satisfação "mozartiana"" em Madrid.

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  3. Yann Beuron já havia interpretado o Don Ottavio, no TNSC, em 1998. Por seu turno, Kate Aldrich, mezzo norte-americano pelo qual nutro imenso apreço, protagonizou Il Barbiere di Siviglia (2006) e L'Italiana in Algeri (2007) no mesmo palco.

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    1. Era o que eu vinha dizer, só não recordava as datas.
      Não assisti aos Rossinis de Kate Aldrich, mas lembro-me muito bem de Yann Beuron.

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  4. Crõnica entusiamada e contagiante!
    Não há quem não queira ver algo assim!
    Parabéns!

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