terça-feira, 30 de outubro de 2012

ORPHEU ED EURIDICE, Theatro Municipal de São Paulo


 ÓPERA SE FAZ ATÉ NO IMPROVISO. ORFEU ED EURIDICE NO THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.


 O Theatro Municipal de São Paulo segue a programação da temporada sem cancelamentos ou adiamentos esse ano, faz isso com méritos, nem que para isso sacrifique o conforto do público. Intitulada "Ópera na Praça das Artes", Orfeu ed Euridice de Gluck foi apresentada em um novo espaço localizado no Vale do Anhangabau. Em meio a um prédio inacabado, com tijolos no chão, paredes sem reboco, banheiros químicos, um calor fervente e a presença do Prefeito de São Paulo Gilberto Kassab e demais autoridades tivemos uma apresentação interessante.

Cena de Orfeu ed Euridice -foto Internet

A obra de Gluck procura harmonizar música, teatro, poesia e dança. Lembremos que na estréia Orfeu ed Euridece revolucionou a ópera. Os compositores escreviam para esse ou aquele famoso cantor ou castrati. Gluck inverte e muda esse conceito e faz os cantores servirem ao drama e não o contrário.
A Orquestra Sinfônica Municipal ficou no meio do palco, em um fosso. Dirigida por Nicolau de Figueiredo mostrou uma musicalidade interessante. Prejudicada por diversos fatores: a acústica do local é terrível, a concepção cênica poluiu a sonoridade com batidas de pés, carros entrando na lateral e trocas diversas de cenários.

                                                        Praça das Artes-foto Internet

Os solistas aturam muito, Kismara Pessati mostrou desenvoltura ao longo papel. Edna de Oliveira atendeu aos pedidos do diretor e fez o personagem Amor ser cômico, tirando diversas gargalhadas da platéia. Gabriella Pace mostrou domínio teatral em sua Euridice, bela atuação. As vozes, sutilmente microfonadas, foram equilibradas em todos os ambientes da praça.
Os números de dança apresentam passos modernos, inspirados na dança de rua. O coral Paulistano esteve a altura da obra, cantou com inspiração e bela musicalidade, embora tenha sido prejudicado pela acústica do local.

Cena de Orfeu ed Euridice -foto Internet

A concepção e direção cênica de Antonio Araújo entra na onda, no modismo de transpor a ação para os dias atuais. Tem idéias interessantes, movimentações dinâmicas e alguns exageros. Exagera em transformar o Amor em um personagem cômico, colocar no inferno desabrigados e pedintes é uma idéia batida. Nos números de dança e corais prejudica a orquestra com movimentações barulhentas, sobram passos largos e carros entrando. Acerta na concepção, consegue uma dinâmica a uma obra que é lenta por natureza. Utiliza todos os espaços da Praça das Artes, um diretor de vanguarda, antenado com o que existe de moderno na ópera atual.
Concepções assim trazem a galera para o teatro. Dão novos ares e vitalidade a uma arte criada há quatrocentos anos. Mas para tê-las precisaríamos de mais óperas tradicionais e o nosso maior teatro parece se esquecer disso.

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