quinta-feira, 19 de junho de 2014

MADAMA BUTTERFLY, METropolitan Opera, Nova Iorque, Maio de 2014 / New York, May 2014


(review in english below)


Foi com grande expectativa que revi esta produção da Madama Butterfly de G Puccini na Metropolitan Opera. Não pelos cantores mas pela encenação.


 Anthony Minghella concebeu uma obra prima quando pôs em cena esta ópera. O palco é negro e vazio, com uma larga abertura ao fundo, por onde entram grande parte das personagens. O jogo de luzes é magistral, o guarda-roupa japonês requintado é imponente e um conjunto de pequenos biombos que se movem na horizontal ao longo de todo o palco, movidos por figurantes todos vestidos de negro, faz o resto. Um conjunto de 5 cadeiras presas entre si e uma caixa com os pertences da Butterfly esgotam os elementos cénicos.


O efeito é magnífico e, sobre ele, ainda há partes de uma beleza de cortar a respiração como, por exemplo, o final do 1º acto, em que o dueto de amor entre Cio-Cio-San e Pinkelton é cantado à luz de lanternas japonesas, sob uma chuva dourada.
O filho da Butterfly é aqui um boneco Bunarku japonês, manipulado por três figurantes que mal se vêem e esta é, talvez, a componente cénica mais impressionante. Não tenho palavras para descrever a magia da encenação.








(fotografias de / photos by Marty Sohy / Met Opera)

Se o caro leitor tiver oportunidade de ver, aqui ou na English National Opera, não perca, é uma das melhores encenações a que assisti em toda a minha vida!

O maestro foi Fábio Luisi que soube tirar da Orquestra da Metropolitan Opera uma sonoridade excelente, como a obra exige. Todos os momentos mais dramáticos foram notáveis. O coro, apesar de ter intervenções mais contidas, foi também excepcional.

E nos solistas houve alguma heterogeneidade:

O soprano chinês Hui He foi uma Cio-Cio-San sensacional. A figura ajuda mas o mais importante é que transmitiu com grande naturalidade os diversos estados estados de alma por que passa a Butterfly, desde os momentos de felicidade ingénua no início, até ao desespero dilacerante mas algo contido no final. E a voz é versátil, de grande potência e excelente colocação.


 Já o tenor galês Gwyn Hughes Jones fez um B.F, Pinkerton aquém do exigível. A voz é pequena, perde qualidade no registo mais agudo e é pouco emotiva. A figura do cantor também não ajuda.

Outra interpretação de grande nível foi a do mezzo americano Maria Zifchak como Suzuki. Tem uma voz grande e expressiva e esteve sempre bem em palco.



O barítono americano Dwayne Croft foi um Cônsul Sharpless muito digno, tanto vocal como cenicamente.

Os restantes intérpretes foram banais para o nível elevado habitual nesta casa de ópera, nomeadamente Scott Scully como Goro e Jeongcheol Cha como Yamadori.

Como referi acima, a ac cão dos figurantes que manipulam o cenário e os bonecos Bunaku fazem um trabalho notável.




 Uma Butterfly numa encenação sublime que, sempre que puder, voltarei a rever!!

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Madama Butterfly, Metropolitan Opera, New York, May 2014

It was with great expectation that I have seen again this production of Madama Butterfly by G. Puccini at the Metropolitan Opera. Not because of the singers, but byecause of the staging production.

Anthony Minghella concieved a masterpiece when put on stage this opera. The stage is black and empty, with a wide opening at the bottom, from where most of the players enter. The light design is also masterful, the Japanese clothes are exquisite and imposing. A set of small screens that move horizontally throughout the stage, driven by supernumeraries dressed all in black, complete the staging. A set of 5 chairs secured together and a box with the belongings of Butterfly complete the scenic elements.

The visual effect is magnificent and furthermore, there are parts of a breathtaking beauty as, for example, the end of the 1st act during the love duet between Cio-Cio-San and Pinkelton, that sung in illuminated by Japanese flashlights, under a golden rainfall.
The son of  Butterfly is a Japanese Bunarku puppet, manipulated by three extras that are barely visible. This is, perhaps, the most impressive staging component. I have no words to describe the magic of the staging effect.
If the dear reader have the opportunity to see this production, here or at the English National Opera, do not miss it, it is one of the best opera stagings I have witnessed in my entire life!

Maestro Fabio Luisi conducted the Metropolitan Opera Orchestra at its best, as the opera requires. All the most dramatic moments were remarkable. The chorus, although with discrete interventions, was also excellent.

Concerning the soloists, there was some heterogeneity:

Chinese soprano Hui He was a sensational Cio-Cio-San. Her figure helps but the most important is that she transmitted with great naturalness the various moods that Butterfly lives, from the moments of naive happiness at the beginning, to the heartrending despair at the final. And her voice is versatile, highly powerful, without losing quality when going up at higher notes.

Welsh tenor Gwyn Hughes Jones was  ​​a poor Pinkerton. His voice is small, it loses quality in the upper register, and is little emotional. The figure of the singer does not help either.

Another interpretation of high quality was American mezzo Maria Zifchak as Suzuki. She has a big and expressive voice and she was always well on stage.

American baritone Dwayne Croft was a very convincing Consul Sharpless, both vocally and on stage.


The other performers were trivial, including Scott Scully as Goro and Jeongcheol Cha as Yamadori, taking into consideration the usual high level in this opera house.

As I mentioned above, the action of the extras that manipulate the scenery and the Bunaku puppets did a remarkable job.

A Butterfly on a sublime staging that, whenever I can, I will see it again!

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1 comentário:

  1. E a ópera é isto: o espectáculo total. Outra coisa não pode ser. Com pena de não poder ver consolo-me com estes apontamentos. Bem haja.

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