quarta-feira, 3 de junho de 2015

EUGENE ONEGIN, Theatro Municipal de São Paulo, Maio de 2015

Eugene Onegin no Theatro Municipal de São Paulo – Há males na vida que vêm para o bem. Crítica de Ali Hassan Ayache no Blog de Ópera e Ballet.



  Fotos, cenas de Eugene Ongin, TMSP, Foto Internet.

   Os boatos que correm sobre o Theatro Municipal de São Paulo é que a verba está curta, fatos que comprovam isso é o atraso no pagamento de alguns cachês e o cancelamento da vinda de diversos artistas. Hugo de Ana estava escalado para dirigir a ópera Eugene Onegin e foi substituído por Marco Gandini. A falta de verba pode ter ocasionado um fenômeno interessante no Municipal. As invencionices caras como Otelo cheio de telões com imagens espaciais, Falstaff punk e Aida luxuosa foram substituídas pela simplicidade. Isso faz muito bem às montagens, na noite de estreia de Eugene Onegin de Tchaihovsky tudo deu certo.
   
Os solistas se mostraram em mais alto nível, com certeza a melhor escalação dos últimos anos. Andrei Bondarenko foi fabuloso como Onegin, voz de barítono repleta de belo timbre e empostação única. Atuação cênica especial, entende todos os sintomas do personagem e se entrega a ele. A Tatiana de Svetlana Aksenova esteve brilhante, mostrou dotes vocais de qualidade única, técnica impecável e um timbre de rara beleza. Uma Tatiana brilhante do início ao fim da apresentação que pode se apresentar em qualquer teatro do mundo. Fernando Portari seguiu o nível dos demais solistas e cantou com agudos brilhantes e técnica apurada, seu russo não é dos melhores, apesar disso conseguiu ser grande entre os solistas. A pequena participação de Alisa Kolosova como Olga esteve à altura da personagem. Vitalij Kowaljow exibiu graves cheios e emotivos, um Príncipe Gremin apaixonado e dedicado a esposa.




   Gandini dirige com correção, acerta em todas as cenas e consegue transmitir a essência e o clima da obra de Tchaikovsky. Cenas simples e sem frescuras ou invencionices no primeiro e segundo ato e o luxo do terceiro ato só mostram a correção na abordagem da obra. Os figurinos e os cenários acompanham o contexto da simplicidade, o vestido de Tatiana no terceiro ato destoa de tudo, sem graça e cafona. O deslocamento do coro e o corpo de baile fazem Eugene Onegin ficar correto e vibrante. A luz de Caetano Vilela esteve mais uma vez correta.
   
A Orquestra Sinfônica Municipal regida por Jacques Delacôte apresentou musicalidade com volume correto que entra no clima da ópera russa. Sonoridade limpa com notas realçadas nos solos e nos conjuntos. O Coro Lírico Municipal de São Paulo, recheado de solistas de óperas pretéritas mostrou-se no mais alto nível de excelência em todos os naipes. As coreografias dos balés do segundo e terceiro ato foram simples e muito bem executadas pelos dançantes escalados.
   
Ópera não precisa de sócios e diretores não podem se achar maiores que a obra. Seguindo essa linha a direção cênica deve se ater ao libreto e a essência da história. O diretor pode inovar sim, mas nunca achar que sabe mais ou é maior que o compositor ou libretista, deve seguir o contexto e narrar a história. Alguns inventam muito e adoram aparecer. Felizmente Gandini não fez isso, contou a história de forma correta e somente engrandeceu os solistas, orquestra e demais conjuntos.

Ali Hassan Ayache 


1 comentário:

  1. Só posso concordar com o último parágrafo! Inovação que não serve a obra é inútil ou prejudicial.

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