sexta-feira, 22 de abril de 2016

SUOR ANGELICA, Royal Opera House, Londres, Fevereiro de 2016 / February 2016

(in English below)

A segunda ópera apresentada do Il Trittico de G. Puccini na Royal Opera House foi a Suor Angelica, numa fabulosa encenação de Richard Jones.
O ponto alto da noite seria a ópera globalmente menos apreciada deste trio.

A encenação é deslumbrante. O pano abre e estamos numa enfermaria de crianças, cuidadas por freiras, algures em meados do século passado. Há 11 camas, todas ocupadas, e todo o material trazido para o palco (bacias, frascos para medicamentos, as próprias camas, as roupas, etc.) é de muito bom gosto. A irmã Angelica está sentada ao centro, frente a uma mesa onde prepara as suas poções curativas.



Dirigiu o maestro Nicola Luisotti. O Coro foi excelente e, de entre as cantoras secundarias, duas destacaram-se pelo impacto da sua interpretação vocal - a madre superiora foi interpretada pela mezzo italiana Elena Zilio (voz grave, escura, segura e poderosa, que parecia cantar sempre em forte) e a mezzo russa Irina Mishura que foi uma abadessa que também se impôs vocalmente.



A contralto sueca Anna Larsson foi a princesa e tia da Angelica. Teve uma presença em palco impressionante, na frieza e distância que colocou na personagem, sendo muito ajudada pelo guarda roupa e encenação. Surgiu elegantemente vestida de negro, com uma estola de raposa, contrastando com o branco dominante dos hábitos das freiras. Foi cínica, fria e insensível. Contudo, a voz grave e escura não esteve ao mesmo nível que ouvi neste papel há cinco anos atrás, mas a ária Nel silenzio di quei raccoglimenti foi outro dos momentos superlativos do espectáculo.



Mas a noite seria da soprano albanesa Ermonela Jaho como Angelica. Uma interpretação perfeita, arrasadora! Raramente temos oportunidade de assistir a desempenhos deste calibre. A voz é lindíssima, cheia de nuances, forte quando necessário e de um dramatismo inigualável. Em cena foi perfeita, tanto na agilidade como na expressividade de todos os movimentos. Se todas as suas intervenções foram de nível superior, na ária Senza Mamma foi insuperável. Um assombro!
Também foi impressionante o final, em que a visão do filho, nesta encenação, é retratada pelo abraço a uma das crianças da enfermaria com idade idêntica à que o filho teria. Puro deslumbramento e magia em palco!



Quando Puccini escreveu esta ópera deveria saber que, um século mais tarde, surgiria a cantora para quem a escrevera – Ermonela Jaho!



No final foi longamente ovacionada em pé, com toda a justiça.



Só esta interpretação teria valido a noite, mas ainda lá viria o Gianni Schicchi...

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SUOR ANGELICA, Royal Opera House, London, February 2016

The second opera of Il Trittico by G. Puccini at the Royal Opera House was Suor Angelica, in a fabulous direction of Richard Jones.
The highest qualitative moment of the night would be this globally less appreciated opera of the three.

The staging is stunning. The curtain opens and we are in a ward of children looked after by nuns somewhere in the middle of last century. There are 11 beds, all occupied, and all the materials brought to the stage (bowls, bottles for medicines, the beds, clothes, etc..) are of high beauty and totally appropriate. Sister Angelica sits at the centre, facing a table where she prepares her healing potions.

Maestro Nicola Luisotti conducted. The choir was excellent and among the singers in the supporting roles, two stood out due to the impact of their vocal performances - the Monitress interpreted by Italian mezzo Elena Zilio (dark and powerful voice) and Russian mezzo Irina Mishura who was a vocally imposed abbess.

Swedish contralto Anna Larsson was the Princess and Angelica’s aunt. She had an impressive stage presence. She appeared elegantly dressed in black, with a fox stole, contrasting with the dominant white of the dresses of the nuns. She was cynical, cold and insensitive. However, her dark voice was not at the same quality level as I heard her in this role five years ago. But the aria Nel silenzio di chee raccoglimenti was another superlative moment of this performance.

But the night would belong to the Albanian soprano Ermonela Jaho as Angelica. A perfect, sweeping interpretation! Rarely we have the opportunity to see performances of this caliber. The voice is beautiful, full of nuances, strong when needed and unparalleled dramatic. On stage she was perfect in the expression of all movements. If all her performance was top level, in the aria Senza Mamma she was unsurpassed!
Also impressive was the end, with the child's vision, in this staging, portrayed by embracing one of the children of the ward. Pure wonder and magic on stage!
When Puccini wrote this opera he should know that, a century later, a singer would emerge to interpret this character - Ermonela Jaho!
At the end she received a totally deserved long standing ovation.

Only this interpretation would have been worth the night, but still to come was Gianni Schicchi ...


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2 comentários:

  1. A Butterfly da Ermonela Jaho foi a interpretação de um papel principal em ópera que mais me emocionou até hoje na minha modesta experiência operática. No ano passado, ponderei ir ver este Tríptico mas acabei por não ir; uma pena, já que todos os registos apontam para uma produção ímpar...

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  2. http://www.roh.org.uk/news/nominations-announced-for-international-opera-awards-2016 -> comentários

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