sábado, 21 de maio de 2016

TANNHÄUSER, Royal Opera House, Londres, Maio 2016 / London, May2016

(review in English below)

Tannhäuser é uma ópera com libretto e música de Richard Wagner. De entre as suas primeiras obras é, musicalmente, a mais rica e sofisticada. No centro do enredo estão os torneios poéticos trovadorescos medievais, muito do agrado do compositor. Grande parte da obra wagneriana está imbuída da redenção pelo amor, tema dominante nesta ópera, apesar de a sua magnitude ultrapassar largamente o confronto entre o amor carnal (simbolizado por Vénus) e o espiritual (por Elisabeth).

A belíssima abertura da ópera é, talvez, a primeira grande página sinfónica do compositor e inclui os temas principais da ópera com valor simbólico. Os Leitmotive virão a ser uma marca indelével nas partituras de Wagner.

Nesta produção da Royal Opera House de Londres, que já tinha visto há alguns anos, a excelente direcção musical foi do maestro Hartmut Haenchen. Os Coros da Royal Opera foram bons mas, ocasionalmente, ouviram-se desacertos. A Orquestra da Royal Opera foi excelente, merecendo especial destaque os metais, nas cordas os violoncelos e, sobretudo, as harpas, que têm um papel fulcral na obra e foram tocadas de forma imaculada. Estavam colocadas no “stalls circle” mesmo à minha frente!


A encenação de Tim Albery é excessivamente austera e pouco eficaz. Começa bem, com a visão por Tannhäuser de Elisabeth. O Venusberg é representado pelo palco da Royal Opera House. É uma Royal Opera dentro da Royal Opera (ideia interessante mas já usada por outros encenadores em outras óperas). A orgia inicial é dançada por seis casais de bailarinos que, com uma longa mesa como adereço, saltam sobre ela e à sua volta, abraçam-se intensamente à medida que vão despindo as camisas, aumentam freneticamente a intensidade da execução, concretizando no final a relação sexual (com toda a decência esperada para um teatro como este). A movimentação em palco é vertiginosa mas perturba a audição da abertura da partitura.

Entra Vénus em cena, vestida de negro, numa cama de lençóis de cetim brancos e este é o único adereço, para além de uma cadeira onde Tannhäuser se senta durante grande parte da récita. Quando abandona o Venusberg surge uma criança sentada à sombra de uma árvore e depois os trovadores amigos de Tannhäuser, no palco totalmente vazio. 

O 2º acto abre com o palco da Royal Opera em ruínas e toda a acção se passa aí. Quando entra o coro, os homens vêm armados de metralhadoras e as mulheres com velas nas mãos, que acendem e colocam juntas no chão. 

Finalmente no 3º acto o palco está ainda mais vazio e coberto de neve, só restando algumas das peças do teatro mais degradadas pelo tempo. O florescer final do báculo é representado pelo plantar de uma pequena árvore plástica por uma criança. 


Enfim, uma encenação desinteressante.

tenor Peter Seiffert foi um Tannhäuser para esquecer. Esteve mal no primeiro acto, logo evidenciando dificuldades e canto muito irregular. No 2º foi ainda pior, as intervenções no concurso de canto foram confrangedoras e já não cantou mais. Foi substituído no 3º acto por Neal Cooper que, não sendo brilhante, fez um bom trabalho, dado ter sido uma substituição imprevista. Tem uma voz bonita, afinada, mas a potência esteve muito aquém do exigido pelo papel.

(Neal Cooper)


Venus foi interpretada pela mezzo Sophie Koch que, como habitualmente, esteve muito bem. Tem uma voz bonita, poderosa e mantém uma linha de canto coerente. Também nos oferece sempre boas interpretações cénicas.


A soprano Emma Bell fez uma Elisabeth excelente. Começou ao mais alto nível no início do 2º acto com Dich, teure Halle mostrando um soprano potente, seguro e, aparentemente, sem esforço. No 3º acto, quando pede à Virgem que a deixe morrer por Tannhäuser (Allmächtge Jungfrau) mantém uma qualidade interpretativa superior. Uma das melhores nesta atribulada récita.


Wolfram, interpretado pelo barítono Christian Gerhaher foi, de longe, o melhor da noite. Um cantor sublime que já ouvi várias vezes neste papel, como aqui tenho escrito, e que esteve novamente ao mais alto nível. O timbre é claro, suave, doce e de beleza inigualável. Nunca cantou em esforço e ouviu-se cada palavra do que cantou, dada a sólida firmeza da emissão vocal. Verdadeiramente assombroso! Protagonizou os momentos mais belos da récita, entre eles, no 2º acto, o concurso de canto (com a orquestra e as suas imaculadas harpistas) e, principalmente, no 3º acto, o canto à estrela da noite (O du, mein holder Abendstern) que foi de uma sensibilidade arrepiante. Só ele teria valido a récita.


Muito bem foi também o menino pastor no início do 2º quadro do primeiro acto, Thomas John.


Tiveram ainda boas prestações o baixo Stephen Milling como Herrmann e os trovadores Walther (tenor Ed Lion), Heinrich (tenor Samuel Sakker), Biterolf (baixo Michael Krauss) e Reinmar (baixo Jeremy White).



Alguma decepção em Covent Garden, parcialmente salva pelas duas senhoras e, sobretudo, por Christian Gerhaher que, sempre que cantava, levava a récita da mediania ao nível estratosférico.








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TANNHÄUSER, Royal Opera House, London, May 2016

Tannhäuser is an opera with libretto and music by Richard Wagner. Among his early works this is, musically, the richer and more sophisticated one. In the center of the plot are the medieval poetical tournaments, much to the liking of the composer. Much of the Wagnerian work is imbued with the redemption through love, the dominant theme in this opera, despite its magnitude largely overcome the confrontation between carnal love (symbolized by Venus) and the spiritual love (by Elisabeth).

The beautiful opening of the opera is perhaps the first great symphonic page by the composer and includes the main themes of the opera with symbolic value. The Leitmotive will become an indelible mark on Wagner's music.

In this production of the Royal Opera House in London that I had seen a few years ago, the excellent musical direction was by the conductor Hartmut Haenchen. The Choirs of the Royal Opera were good but occasionally I have heard some discrepancies. The Orchestra of the Royal Opera was excellent, deserving highlight the metals, the cellos and, above all, the harps, which have a key role in the work and played immaculately. They were placed in the "stalls circle" just in front of me!

The staging of Tim Albery is too austere and ineffective. The opera starts well, with the vision of Elisabeth by Tannhäuser. Venusberg is represented by the stage of the Royal Opera House. It's a Royal Opera into the Royal Opera (interesting idea but already used by other directors in other operas). The initial orgy is danced by six couples of dancers who, with a long table as a prop, jump on it and around it, hugging each other intensely as they strip off shirts, frantically increase the intensity of execution, ending in sex (decency as expected for a theater like this). The movement on stage is dizzying but disturbs the hearing of the opening score.

Venus enters the scene, dressed in black, on a bed of white satin sheets and this is the only prop, in addition to a chair where Tannhäuser sits for much of the performance. When leaving Venusberg a child appears, sitting in the shade of a tree, and then enter the troubadours, friends of Tannhäuser, on a totally empty stage.
The 2nd act opens with the stage of the Royal Opera in ruins and all the action is happening there. When the choir enters, men come armed with machine guns and women with candles in their hands, that light and put together on the floor.
Finally on the 3rd act the stage is even more empty and covered in snow, leaving only some of the most degraded by time theater pieces. The final flourish of the Pope's staff is represented by the planting of a small plastic tree by a child.
Anyway, unclear and overly austere staging.

Tenor Peter Seiffert was a Tannhäuser to forget. He was bad in the first act, showing difficulties and irregular singing. In the 2nd act he was even worse, his interventions in the singing contest were dreadful and he no longer sang the 3rd act. He was replaced by Neal Cooper that, although not brilliant, did a good job, because he had to replace Seiffert unexpectedly. He has a nice tuned voice but the vocal power fell far short of that required by the role.

Venus was played by Sophie Koch who, as usually, was very good. She has a beautiful, powerful and always tuned voice. She also always offers good scenic interpretations.

Soprano Emma Bell was an excellent Elisabeth. She started at the highest level at the beginning of the 2nd act with Dich, teure Halle showing a powerful soprano, secure and apparently effortless. In the 3rd act, when she asked the Virgin to let her die by Tannhäuser (Allmächtge Jungfrau) she maintained a top interpretative quality. One of the best of the performance.

Wolfram, played by baritone Christian Gerhaher was by far the best of the night. A sublime singer I've heard several times in this role, as I have written here, and he was again at the highest level. The tone is light, soft, sweet and unparalleled beauty. He never sang in effort but one could heard every word he sang. Truly amazing! Starred in the most beautiful moments of the performance, among them the singing contest of the 2nd act (with the orchestra and its fabulous harpists) and mainly in the 3rd act, the song to the evening star (O du mein holder Abendstern) which was a chilling sensitivity. He alone would have been worth the performance.

Very well was also the shepherd boy at the first act, Thomas John.

Also with good performances were bass Stephen Milling as Herrmann and troubadours Walther (tenor Ed Lyon), Heinrich (tenor Samuel Sakker) Biterolf (bass Michael Krauss) and Reinmar (bass Jeremy White).

Some disappointment in Covent Garden, partially saved by the two ladies, and especially by Christian Gerhaher. Whenever he sang, he transported the performance from trivial to stratospheric.


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